terça-feira, abril 03, 2007

quaresma ao som de mozart

Diz-se que se quiséssemos aprender tudo o que há para saber sobre mozart, mas tivéssemos que nos ater a apenas um gênero de composição, nossa melhor escolha estaria seguramente no universo dos seus concertos para piano. Somando o expressivo número de 27 obras, os concertos para piano escritos pelo ilustre compositor austríaco revelam a um só tempo muitas peculiaridades do gênio, do amadurecimento da composição e também do entorno social da Viena católica do século XVIII.

O primeiro concerto para piano escrito por mozart (piano concerto Nr 1 em F maior, KV. 37), datado de abril de 1767, consiste de um conjunto de 3 movimentos de sonatas de outros compositores, por ele arranjados para versão orquestral. Vale destacar que à época, mozart somava 11 anos de idade. Já o último fora composto entre 1788-91 (piano concerto Nr 27 em B maior, KV. 595), contemporâneo do também último inverno de sua vida, tendo estreiado em Viena em março de 1791, 9 meses antes de sua morte em dezembro do mesmo ano.


Grande parte dos 27 concertos foi escrita durante ou pouco tempo antes da Quaresma, as seis semanas de reflexão no mundo católico, que precedem a Páscoa, a cada ano. Sendo a Viena da época uma cidade fervorosamente católica, os teatros dramáticos permaneciam fechados durante estas semanas. Sem a concorrência destes, a temporada oferecia a oportunidade perfeita para que os músicos de concerto capitalizassem sobre a grande demanda por entretenimento.

Exímio pianista reconhecido como tal em seu tempo, mozart atraía um público respeitável para as salas de concerto, chegando a executar de 3 a 4 récitas por semana. Não fosse por quaisquer outros motivos, como pianista e compositor, as temporadas de quaresmas tiveram papel de destaque na motivação da produção de seus concertos para piano. Uma curiosidade e tanto para se compartilhar nestes tempos de quaresma do verão-outono brasileiro de 2007.

Difícil apontar dentre suas obras no gênero, aquelas de maior destaque - muitas e acaloradas são as discussões entre apreciadores e críticos, há gerações. Mas como nem tudo é assim tão controverso, num ponto gregos e troianos concordam: o concerto nr 15 (piano concerto nr 15 em B maior, KV. 450) estreiado na primavera européia de 1784 conjuntamente com outros 3 concertos para piano escritos num tempo recorde de 2 meses, está sem dúvida alguma entre suas obras maestras. E não apenas pela qualidade e originalidade da composição, conforme destacado pelos críticos da época logo após sua morte, mas especialmente pela leveza da harmonia, o contraste de luz e sombra e o alto nível de exigência na interpretação.

Vamos continuar conversando nos próximos posts sobre impressões e características dos concertos para piano de mozart. Para quem me acompanhou até aqui, um presentinho:
Piano Concerto nr 15 em B maior, KV. 450
Orquestra: Academy of St. Martin In The Fields
Condutor: Sir Neville Marriner
Solista (Piano): Alfred Brendel
Selo: Philips, 1994
Boa audição e até a próxima!

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu discordo. Mozart foi, a meu ver um compositor essenciamente de óperas.

Mas isso a gente conversa depois, com café.

Beijo!