Créditos: cartunista Claude Serre. |
Até me considero uma pessoa aberta para receber e sabatinar novas ideias mas por mais que eu entenda o que está em jogo, realmente não me convenci até o momento que a solução precisa necessariamente passar por liberalidades que possam incomodar a apreciação de uns em detrimento da expressão de outros.
Em publicações europeias tenho lido vários artigos interessantes sobre a matéria. E me chama atenção que as inovações que as salas de concerto vêm experimentando passam por soluções bastante mais moderadas do que tenho visto ser discutido por aqui. Mas então, como diria um grande amigo: por que não me espanto?
A Gramophone de maio passado, por exemplo, traz uma matéria interessante assinada pela jornalista e musicista Rebecca Hutter, que conta como foi sua experiência assistindo um dos concertos da série MusicUpClose cuja proposta é aproximar a audiência dos músicos e do regente, proporcionando a eles oportunidade de conversar sobre as obras, endereçar dúvidas e compartilhar experiências. Em resumo, os concertos desta série têm sessões para ouvir música e sessões para conversar sobre música.
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Quem está habituado a frequentar ou já esteve pelo menos uma vez num concerto da OSESP na Sala São Paulo, sabe que chegando mais cedo na Sala pode participar do Falando de Música, onde se conversa sobre as obras do programa do dia, peculiaridades, contexto histórico e outras informações de interesse para o público. Particularmente, gosto muito deste serviço.
Note que, ainda que o formato atual do Falando de Música não inclua a presença e interação da audiência com os músicos, já representa um grande diferencial em relação ao formato tradicional da oferta de concertos, que no máximo inclui um programa e notas bem escritas.
Uma outra discussão que me atraiu a atenção foi uma enquete iniciada pelos Jovens Amigos da Filarmônica de Berlin, numa referência a um artigo publicado pelo Huffington Post. A autora defendia que a audiência deveria ser encorajada a aplaudir a qualquer momento como forma de reconhecer um bom desempenho da orquestra, e argumentou que no final do século XIX o público gritava, subia nas cadeiras, e se manifestava livremente, enquanto que hoje os jovens precisam se submeter às regras de etiqueta rígidas impostas desde então nas salas.
Quem ler as respostas da enquete, vai encontrar minha opinião registrada por lá em inglês, e publicada aqui a seguir numa transcrição para o português:
"Este assunto é realmente polêmico. Tentei rever minha primeira escolha, mas ainda não consigo me imaginar gostando da experiência difusa de ter pessoas que interagem com a execução a qualquer momento, enquanto ela está se desenvolvendo. Pode-se afirmar que é um comportamento esperado após anos apreciando concertos no formato tradicional. Mas, então, eu não consigo imaginar um melhor ambiente para que os músicos possam se concentrar e interagir - uns com os outros e com público - que não seja pela apreciação silenciosa da audiência. Entendo que isso pode não ajudar a atrair o público mais jovem, mas me pergunto se eles não deveriam ser educados para reconhecer e respeitar as diferenças - apreciar um concerto pode ser individual, mas como público o fazemos compartilhando um ambiente coletivo."
Longe de mim tentar esgotar a discussão. Mas, como comecei afirmando, acredito que a solução deve passar por abordagens mais moderadas, um meio de caminho entre os extremos. E você, o que pensa?
Um comentário:
O problema dentro das salas no terceiro e no primeiro mundo é que as pessoas que estão nas salas são as mesmas que estão na rua.
Como um problema corporativo, a cultura de um país tem que ser abordada fim-a-fim.
Não adianta ter um Falando de Música antes do concerto na sala se a senhora que vai a sala depois assiste a novela da globo com trilha sonora funk, ou mesmo se ela não ouve, mas a faxineira dela ouve...
Cultura é integral, as motivações para os comportamentos bárbaros que se vê dentro e fora das salas são os mesmos. Nossa sociedade vai precisar tomar um susto para conscientizar-se? - Parece-me que sim.
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